segunda-feira, 5 de novembro de 2007

tv do vizinho

2texto escrito no dia: 9 de agosto de 2007 ou seja, VELHO.


tem uma tv, a tv do meu vizinho, ela nunca pára.
está sempre ligada, alerta. com seus filmes de bang-bang, suas novelas dramáticas.
com as notícias tristes, e as notícias que fingem ser alegres mas que também
são tristes. Com seus comerciais apelativos, seus momentos de loucura;
a tv também mostra nudez. mostra o sexo limitado da classe média carioca.
que se acha picante, mas na verdade é tudo limitação. mostra as despedidas, os fins, os reencontros.
mostra as derrotas do mundo sob dois disfarces: tragédia e vitória. mas é tudo derrota.
mostra um homem gordo tentando fazer o proletariado se divertir. a tv é o circo, e o pão, não existe.
mostra um loiro que mostra miséria, mostra um filme dublado. mostra a classe dominante nos seus apartamentos no Leblon, coexistindo com os seus medos
tais como medo de engordar, de pivete e de dentista.
A tv mostra sangue, noticiários,sexo. mostra desenhos violentos.mostra a cura das doenças.
mostra a tsunami. mostra os carros da moda.
a tv do meu vizinho nunca pára. Está sempre alerta, com seus filmes de bang-bang.
a tv mostra o que o povo quer ver.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

sangue.

estou sentada, vendo o sangue escorrer.
ele é vermelho, quente, vivo. tão vivo que chega a doer.
ele tá ali pra esquecer. pra eu usá-lo como fuga, fuga da realidade.
olho para ele.
ele me encara, olha de volta, com a sua cor tão viva.
cada gota é tão amarga quanto cada lágrima derramada.
lágrimas e sangue em vão.
Este sangue é uma farsa. eu acho que estou jogando fora todas as lembranças, todos os dias de sol. em cada gota, eu vejo uma fuga daquilo que é impossível de ser retirado de mim, eu vejo uma fuga de mim mesma.
Esse sangue é falso. igual aos usados nos filmes. ele finge que vai tirar minha dor, eu finjo que acredito, e o jogo fora. mas a lembrança continua aqui, bem aqui, dentro de mim, de uma forma tão firme, só não mais firme do que a determinação de esquece-las.
esse sangue é denso. é grosso,denso, pesado, carregado de falsas emoções que não vão embora.
meu deus, elas não vão embora! Só o sangue que escorre pelo ralo, e o deixa avermelhado.
O sangue me jurou que ia levar tudo aquilo, que ia levar você, que ia levar cada dia desses dois anos.
mas nada está indo embora. o sangue só está esvaziando meu corpo.
eu continuo aqui, você continua aí. tão longe, tão longe...
e é isso que faz o sangue ir embora.
a distância. a distância entre nós.
a distância entre a minha razão e o coração, a distância entre a minha sanidade e a loucura
é por loucura que o sangue vai embora, escorre pelo ralo, gota a gota, minuto a minuto.
ele escorre, vai embora...
e você fica. fica tão firme quanto a certeza de que cada gota jamais voltará para o meu corpo.
Você continua tão firme quanto a certeza que eu tenho de que isto é mentira;
Você está longe. longe demais.
longe, tão longe. nunca mais vai voltar. assim como meu sangue que escorre.
talvez seja isto que o sangue tentou dizer o tempo todo e não conseguiu.

domingo, 19 de agosto de 2007

os acontecimentos recentes me esvaziaram. já não tenho certeza de mais nada, já não posso ouvir música sem chorar. temo o futuro como quem teme a morte. já nem sou capaz de escrever, a criatividademe abandonou. tenho uma insegurança constante, desenvolvi novos medos. fiquei mais agressiva.paguei consultas em busca de felicidade. tentei fazer muitas coisas achando que o mundo ia mudar.vivi na ilusão de que EU era o centro. me droguei para esquecer. chorei várias vezes para esvaziar.fui esvaziando, sumindo...até as feições foram mudando. o sorriso foi embora, as olheiras se acentuaram.e agora, os cabelos estão caindo, caindo...e eu fui esvaziando.tudo de bom que existia dentro de mim foi descendo ralo a baixo.foi descendo escada abaixo, abriu a porta e foi embora.até as lágrimas foram embora. choro menos e sinto mais. fui ficando vazia.as unhas foram enfraquecendo. fui me tornando uma pessoa seca.fui ficando vazia.os olhos perderam o brilho, se tornaram opacos. o rosto foi ficando feio. fui ficando vazia.o coração ,coitado dele.já não era capaz de mais nada além de sentir pena de si mesmo.o coração foi o que ficou pior. e a única marca que ele deixou é uma tênue marca no pulso direito.o álcool e as drogas foram se tornando amigos. mas não mudavam nada. fui ficando vazia. alguns amigos deram as costase se negaram a virar de novo. fui ficando vazia...o corpo foi perdendo o vigor, se tornando doente. fui ficando vazia. o mundo se tornou incolor, a comida foi perdendo o sabor, a água se tornou insuportável;viver era apenas sentir a dor que a separação provocou. viver só lembrava que ELA havia me deixado.fui ficando vazia, vazia, vazia...
sumi.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

ser ou não ser? eis uma das questões

responda rápido: qual é a escola que tem mais unidades no Brasil?caso voce não saiba, a resposta é simples: cefet. e o CEFET é uma escola técnica. que tem por objetivo formar técnicos. voce pode estar pensando: "tá, até agora, ela não disse nada". Mas isto é um exemplo bem simples, diria até cruel, de como nosso país forma jovens para serem jogados nas mãos do capitalismo. o Brasil não é um país que produz tecnologias, ele as importa de outros países. e, ao formar técnicos, está formando apenas pessoas para trabalharem com as tecnologias que são importadas. situação semelhante a do personagem do gênio Chaplin, em seu filme, "tempos modernos", onde seu personagem apenas aperta botões e desconhece o todo da produção do que fabrica.
Ou seja, estamos vivendo agora, no Brasil, uma situação que nas aulas de história estudamos como ocorridas no século XIX e XX, mas acontece aqui, agora, no nosso querido brasil!
sem percebermos, estamos inseridos num modelo fordista que nos aliena e nos explora! enquanto no quadro evolutivo da Revolução industrial, mostra que atualmente o mercado pede um trabalhador especializado, vemos que aqui a realidade é outra! ou seja, estamos regredindo, ou quem sabe, nunca evoluímos.
Enquanto os pais falam para seus filhos:" É preciso que voce seja bem preparado, fale idiomas, cante, dance e represente", vemos que a tendência é outra!
e muitos pais, por falta de conhecimento sobre isso, acabam achando bom seus filhos irem pra uma escola técnica, e saírem formados técnicos de informática, química, edificações, o que for.
não estou desmerecendo o trabalho dos futuros técnicos, mas as pessoas, principalmente os jovens, precisam ver que somos capazes de muito mais!
a maioria dos jovens que fazem um curso técnico, não fazem curso superior, não se especializam!
não devemos passar o resto de nossas vidas trabalhando com a tecnologia alheia, devemos criar as nossas! não devemos passar o resto da nossa vida mexendo em computadores enquanto a maioria da população ainda não tem acesso à eles!devemos criar tecnologias que cuidem do que é nosso, da nossa água, das nossa florestas, do nosso povo!
ao correr atrás de lucros, a ciência assumiu um caráter desumano e predatório, chegou a um caminho que não esperava e agora todos sofrem com o impacto global. mas, a ciência, que é uma das grandes chaves deste século não precisa ser usada desta forma,abominável. ela pode ser usada para o que nós queremos.
E o que você quer?
passar a vida atrás de uma tela, mexendo em botões, ao mesmo tempo que crianças morrem de fome, ou tentar mudar tudo isso?
eu optei pela segunda acertiva.
porque acredito numa frase que o renato russo canta em uma de suas músicas: "O Brasil é o país do futuro"



escrito no dia 5 de julho de 2007, terminado às 19hs 39, na praça de alimentação do bps

terça-feira, 10 de julho de 2007

seventeen

era um lugar amplo e bagunçado. várias coisas no chão, várias presas no teto, enormes caixas de mogno repletas das mais variadas coisas. ela passava por tudo sem encostar em nada, parecia que não queria ter contato com aquilo tudo. às vezes lançava olhares furtivos para alguma coisa e parecia que seus olhos ficavam marejados, mas logo ela prosseguia, agora com os olhos secos. olhou para um canto mal iluminado, e viu um grande calendário, que começava no dia 22 de agosto de 1990. cada dia, desses quase 17 anos, tinha algo escrito. lá estava a sua vida. olhou a infância, viu coisas que não se lembrava. resolveu olhar a partir dos seus 14 anos. seus anos dourados. seus anos de cabelos longos, de ninfescência, orgulho desmedido. avançou mais um pouco, viu a inocência indo embora sem olhar para trás, viu as festas, as diversas experiências, as amigas, tudo, tudo.
reviu calmamente aquele dia na praia com ela, aquele dia na festa com ele, aquele pôr-do-sol, aqueles filmes que as 4 viram juntas. repassou cada dia lentamente, saboreando o mel e o fel que emanava de cada um deles. toda sua vida estava ali. 16 anos.
ela não queria fazer 17. era muita idade, seu último ano de adolescência, depois vinha a vida adulta com suas mãos de crápula, prontas pra massacrar mais um monte de sonhos.
ela não podia abandonar tudo isso, mas o relógio corria, faltava pouco para a meia noite do dia 22 de agosto de 2007.
logo ela que sempre adorara fazer aniversário, queria correr contra o tempo e pará-lo nos seus 16 anos. algo precisava ser feito. ela queria voltar para as festas, para as idas à praia com a galera, para as noites dormidas nos braços dela... mas faltava pouco!
5 minutos. começou a ficar desesperançosa. como resgatar as migalhas do passado? ou melhor, como impedir o futuro?
1 minuto.
o coração na mão. ela lembrou que no início de 2007 havia escrito que aquele era o "1º ano do resto de nossas vidas". agora, tudo parecia claro. meia-noite.
interrompeu o choro, olhou para o relógio e pensou "malfeito, feito".
entretanto nada mudara. apenas o relógio. resolveu ir embora da sala. levantou-se e bateu a porta, indo em direção às escadas. mal ela havia ido embora, o Destino( ou acaso, como preferirem), que estava observanado tudo, levantou-se e começou a escrever apressadamente no calendário. antes dela terminar a escadaria e alcançar a rua, tudo mudou.
teve um clarão, depois ela ficou com um sorriso bobo nos lábios.
ninguém sabe o que aconteceu naquele instante. mas depois dos 17, ela nunca mais foi a mesma.