terça-feira, 10 de julho de 2007

seventeen

era um lugar amplo e bagunçado. várias coisas no chão, várias presas no teto, enormes caixas de mogno repletas das mais variadas coisas. ela passava por tudo sem encostar em nada, parecia que não queria ter contato com aquilo tudo. às vezes lançava olhares furtivos para alguma coisa e parecia que seus olhos ficavam marejados, mas logo ela prosseguia, agora com os olhos secos. olhou para um canto mal iluminado, e viu um grande calendário, que começava no dia 22 de agosto de 1990. cada dia, desses quase 17 anos, tinha algo escrito. lá estava a sua vida. olhou a infância, viu coisas que não se lembrava. resolveu olhar a partir dos seus 14 anos. seus anos dourados. seus anos de cabelos longos, de ninfescência, orgulho desmedido. avançou mais um pouco, viu a inocência indo embora sem olhar para trás, viu as festas, as diversas experiências, as amigas, tudo, tudo.
reviu calmamente aquele dia na praia com ela, aquele dia na festa com ele, aquele pôr-do-sol, aqueles filmes que as 4 viram juntas. repassou cada dia lentamente, saboreando o mel e o fel que emanava de cada um deles. toda sua vida estava ali. 16 anos.
ela não queria fazer 17. era muita idade, seu último ano de adolescência, depois vinha a vida adulta com suas mãos de crápula, prontas pra massacrar mais um monte de sonhos.
ela não podia abandonar tudo isso, mas o relógio corria, faltava pouco para a meia noite do dia 22 de agosto de 2007.
logo ela que sempre adorara fazer aniversário, queria correr contra o tempo e pará-lo nos seus 16 anos. algo precisava ser feito. ela queria voltar para as festas, para as idas à praia com a galera, para as noites dormidas nos braços dela... mas faltava pouco!
5 minutos. começou a ficar desesperançosa. como resgatar as migalhas do passado? ou melhor, como impedir o futuro?
1 minuto.
o coração na mão. ela lembrou que no início de 2007 havia escrito que aquele era o "1º ano do resto de nossas vidas". agora, tudo parecia claro. meia-noite.
interrompeu o choro, olhou para o relógio e pensou "malfeito, feito".
entretanto nada mudara. apenas o relógio. resolveu ir embora da sala. levantou-se e bateu a porta, indo em direção às escadas. mal ela havia ido embora, o Destino( ou acaso, como preferirem), que estava observanado tudo, levantou-se e começou a escrever apressadamente no calendário. antes dela terminar a escadaria e alcançar a rua, tudo mudou.
teve um clarão, depois ela ficou com um sorriso bobo nos lábios.
ninguém sabe o que aconteceu naquele instante. mas depois dos 17, ela nunca mais foi a mesma.

4 comentários:

Anônimo disse...

bem escrito.tocante.bonito mesmo

Anônimo disse...

Eu já tica comentado aqui ¬¬
O texto tá bem legal mesmo.Pelo visto esse vai ser o primeiro ano que a Luma não vai dizer "agora tenho 18" no dia do aniversário de 17 anos, é luma, estamos ficando velhas :P

Vinicius disse...

acho q não conseguiria escrever sobre o futuro com tanta precisão...

Prof. Filipe de Moraes Paiva disse...

Não poderia haver um assunto mais lindo e do qual você saiba tanto quanto você.