sexta-feira, 7 de setembro de 2007

sangue.

estou sentada, vendo o sangue escorrer.
ele é vermelho, quente, vivo. tão vivo que chega a doer.
ele tá ali pra esquecer. pra eu usá-lo como fuga, fuga da realidade.
olho para ele.
ele me encara, olha de volta, com a sua cor tão viva.
cada gota é tão amarga quanto cada lágrima derramada.
lágrimas e sangue em vão.
Este sangue é uma farsa. eu acho que estou jogando fora todas as lembranças, todos os dias de sol. em cada gota, eu vejo uma fuga daquilo que é impossível de ser retirado de mim, eu vejo uma fuga de mim mesma.
Esse sangue é falso. igual aos usados nos filmes. ele finge que vai tirar minha dor, eu finjo que acredito, e o jogo fora. mas a lembrança continua aqui, bem aqui, dentro de mim, de uma forma tão firme, só não mais firme do que a determinação de esquece-las.
esse sangue é denso. é grosso,denso, pesado, carregado de falsas emoções que não vão embora.
meu deus, elas não vão embora! Só o sangue que escorre pelo ralo, e o deixa avermelhado.
O sangue me jurou que ia levar tudo aquilo, que ia levar você, que ia levar cada dia desses dois anos.
mas nada está indo embora. o sangue só está esvaziando meu corpo.
eu continuo aqui, você continua aí. tão longe, tão longe...
e é isso que faz o sangue ir embora.
a distância. a distância entre nós.
a distância entre a minha razão e o coração, a distância entre a minha sanidade e a loucura
é por loucura que o sangue vai embora, escorre pelo ralo, gota a gota, minuto a minuto.
ele escorre, vai embora...
e você fica. fica tão firme quanto a certeza de que cada gota jamais voltará para o meu corpo.
Você continua tão firme quanto a certeza que eu tenho de que isto é mentira;
Você está longe. longe demais.
longe, tão longe. nunca mais vai voltar. assim como meu sangue que escorre.
talvez seja isto que o sangue tentou dizer o tempo todo e não conseguiu.